domingo, novembro 22, 2015

Mocho-Noite: poema


Vamos por aqui, na tempestade dos dias serenos-cálidos e distantes de vida, mergulhar no olhar do mocho, mergulhar nele e perguntar Porquê? Porquê?, meu Deus, escolhi eu para mim esta vida decepcionante?
Não será antes melhor escolher a superior decepção do Paraíso?
Saí de lá para quê, afinal? Para ter esta imbecil EXPERIÊNCIA?
De que me serve esta tonta EXPERIÊNCIA se tudo o que eu quero fazer dela é arremessá-la a um mar distante, algures naquela outra galáxia que também eu há muito reneguei, e esperar que outro iluminado espírito a estraçalhe nos seus pés de alienígena.
Esta incapacidade de não ter talvez aquilo que um dia eu tive a ilusão de ter desejado por dois imbecis segundos - magoa a única estúpida célula não iluminada a residir no meu coração.
Estou farto-farta de por cá andar. 
Chateia, pá.
Aborrece-me esta não tão impassível serenidade-tempestade dia sim dia não. Quero mais da vida do que querer a vida toda, quero uma transcendência que aqui, jorrado-jorrada, eu não atinjo. Se me agarro às estrelas elas queimam e dizem Não, Mais um Pouco, Espera.
Esperar pelo QUÊ? Até aos noventa vai isto andar assim?
Um mocho que aguarda No Ramo Na Árvore Na Noite - eis o meu destino. Sou o Mocho Sou a Árvore Sou a Noite.


Ágata Simões, 22 de Novembro de 2015

/Dunya_OUT

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